Depoimentos

quer participar? escreva o que você acha de Aron Feldman e envie para idafeld@gmail.com


Savio Leite

Ida,
achei uma entrevista que fiz com o Aron em 1989, quando entrei na faculdade de comunicacao aqui em BH. sao oito paginas ao todo. vou digitar novamente e publicar no meu blog. te aviso. tinha uma fanzine na faculdade que se chamava underground. depois da entrevista fiquei amigo do seu pai e continuei indo no apto da rua congonhas. alguns anos mais tarde cheguei a dividir apartamento com o pessoal do virna lisi e moramos...pasme...no mesmo local.
coisas da vida.
um abraço,
Savio


Fabio de Carvalho
Diretor do filme "O Mundo de Aron Feldman"


Aron foi a figura mais amável que tive o privilégio de conhecer. Me lembro quando um amigo comum, o João, me levou de moto à sua casa no alto da Serra para fazer a câmera de “Finito ou Infinito”, filme em Super 8 que ele iria realizar.
Se não me engano era o ano de 1985.
Encontramos Aron na garagem remexendo o motor de sua Rural azul que havia aparecido em vários de seus filmes. Entramos no elevador e ficamos horas conversando ali dentro para só depois acionarmos o comando e subirmos para seu apartamento.
A empatia foi imediata.
De vista, eu já o conhecia. Impossível não notar sua figura altiva e esguia sempre de chapéu, paletó e uma bolsa a tiracolo nos bares que a juventude rebelde freqüentava naquele momento.
Sua imagem era a de um santo ou um guru rodeado pelos malucos aspirantes a artistas.
Só pensava em cinema. Datilografava seus roteiros na máquina de escrever, fotografava e montava no editor Super 8 que tinha na era pré-vídeo.
A sua bondade, tão aparente, pregou-lhe algumas peças.
Certa vez levou jovens interessados em cinema na sua casa/estúdio na cidade de Santo André, onde morou por muitos anos, que acabaram por lhe roubar todo equipamento 35 mm.
Certamente ele não pertencia a este mundo cruel e perigoso. Sua visão do mundo era pura, clara e amorosa, como todos os homens deveriam ver.
Seu cinema refletia sua pureza. Embora soubesse tudo da técnica, deixava flagrante a imperfeição, revelando o humano, o cinema do possível e o grande poeta que era se expressando através da linguagem audiovisual.
Quando trabalhávamos no seu filme “Odisséia de um Cadáver”, mostrando seu sapato furado me disse: “Vai se preparando, essa é a situação do cineasta brasileiro”.
Grande lição.
Vi com ele que o que importa é fazer: pensar, filmar, montar.
A viagem é essa. A força da natureza é implacável. Não se faz cinema por dinheiro e sim por amor e tesão.
Perto do Aron todos os seres humanos pareciam baixos, traiçoeiros e hipócritas em suas trajetórias repletas de artimanhas para jogar o jogo da vida. Seu sapato furava, mas claramente ele andava bem acima do chão.

Fábio Carvalho
dezembro/2007


Paulo Emílio de Salles Gomes
Professor de Cinema Brasileiro na USP, em 2 de Novembro de 1974,  Dia dos Mortos.









De dentro de um Cemitério
Para muitos filmes brasileiros, produzidos apro ximadamente entre 68 e 71, a marginalidade foi uma opção, even tualmente acentuada pela cisma da censura e ou pela má vontade do comércio.

Com ANÔNIMO Jr., o filme dos Feldman - o pai Aron, o filho Cláudio, o resto da família e os amigos - não aconteceu nada disso. Essa obra de artesanato familiar, nascida numa idade satélite do Grande - e medonho São Paulo, não deu propriamente as costas a ninguém; a única coisa que rejeitou - na maior inocência - foi o gosto de uma comissão carioca encarregada pelo poder público de avaliar a qualidade dos filmes brasileiros. A tal qualidade não foi reconhecida em ANÔNIMO Jr., o que impediu a sua comercialização, isto é, o seu encontro com a parcela de público popular à qual se endereçava nessas condições só restou para o filme a audiência mais sabida e limitada dos clubes de cinema e dos alunos da universidade. O infortúnio teve em todo o caso o mérito de sublinhar mais uma vez o alheiamento e a ignorância da comissão carioca que se responsabilizou pela marginalização de ANÔNIMO Jr.

O que impressiona no comportamento dos comissários governamentais é o desconhecimento que revelaram em matéria específica de cinema brasileiro e mais geralmente em torno de cultura nacional e seus diferentes matizes. Tudo aquilo que os chocou em ANÔNIMO Jr. - e que se tor nou conhecido graças ao saudável hábito carioca de indis crição e tagarelice - emana de forma cristalina de nossa tradição e é reconhecido com íntima simpatia por qualquer sensibilidade pouco alterada pelo pedantismo.

A começar pelo cemitério - o espaço mais presente no universo de ANÔNIMO Jr. É um cemitério para valer, preparado para receber defuntos, oradores que tendem para o delírio, fascista ou viúvas inconsoláveis. O jazigo da família Guimarães, decorado pelo profano, pelo sagrado, e fartamen te iluminado por velas, é acolhedor para a variedade do coti diano, leitura, descanso, refeições, e apropriado para sussurros e falas eróticas onde importa a palavra escorpião. Os loca tários permanentes - a viuva é passageira - são Anônimo Jr , borboleta fugitiva do hospício, e seu amigo, confidente e alter-ego, Papanatas, o bicho que por enquanto mais falou no cinema brasileiro. Papanatas certamente tem muito o que dizer, mas infelizmente suas mensagens nos chegam truncadas pela trilha sonora. A gente se pergunta se foi isso que indispôs os comissários cariocas. Mas seriam eles interlocutores válidos para um ratinho branco? Ou teriam eles suficiente sentimento para apreciar coveiros cuja atividade mais clara é desenterrar ossos esquecidos ou saborear anjinhos ao mo lho pardo?

Fora do cemitério o mundo não perde a sua razão de ser, basta um lençol imaculado para que o asfalto do progres so se preste ao amor ou ao sono. No hospício o que havia de mais deprimente era a imitação dos vitoriosos. Trabucodonosor autoridade armada e vulnerável como demonstra uma lava deira cantante - organiza em torno de sua debilidade, subi- tamente revelada, um desses insólitos cortejos que tem enri quecido o cinema brasileiro: gêmeos parecidíssimos, cantores caipiras, um camelô e o comerciante sírio, além do padre que já foi cavalo de oxumaré.

E então a gente se põe a cismar a respeito de uma sala de projeção no Rio de Janeiro, em 1971. Na tela esta vam presentes essas e muitas outras fantasias, farsas e poesia que evoquei. Nas poltronas, a Comissão. O pequeno público e a fita não se encontraram. Os comissários julgadores alegam que foi devido à precariedade. Mas depois de assistir ANÔNIMO ]R. a gente pergunta:- Precariedade de quem?



Vander Bras
Fotógrafo


Já tem alguns anos e a distância, provocada também pelo tempo, provavelmente te impede de ter alguma lembrança minha. Bem, sou o Vander e sou fotógrafo. Quem me ensinou as primeiras lições em fotografia foi seu pai, Aron Feldman, pessoa que não esqueço e por quem tenho enorme carinho e gratidão. Frequentei a casa de vocês, um apartamento no bairro Serra, aqui em Belo Horizonte. Na época seu pai estava fazendo um filme e pude ajudá-lo e ao mesmo tempo aprender com ele. Uma coisa que me chamou muito a atenção naquele período era a capacidade que seu pai tinha de reunir gente jovem em torno dele. Éramos um bando de pessoas recém saídas da adolescência, em busca de uma linguagem artística com a qual pudéssemos nos colocar no mundo. Você cantava num grupo chamado Ida e os Voltas. O que foi feito do grupo? Você continua cantando? Seu pai foi uma pessoa muito boa para mim. Ele nunca me cobrou absolutamente nada por todo aquele conhecimento sobre fotografia e o mundo que ele me transmitiu de forma totalmente despojada.
Abraços
Vander Bras / BH - MG 



Marcelo Gabriel
Dançarino






Querido Sr. Aron, alma boa e abençoada, caminhando no céu e na terra, iluminando o nosso caminho sempre e sempre.


Fernando Netto Moreno
da Smart Biz





Eu conheci o Aron no início dos anos 90, quando era muito amigo da Ida Feldman, sua filha.
Ele sempre me pareceu uma pessoa em paz com a vida e centrada. 
E com muitas historias para contar, pioneiro no trabalho dele.


Alex Cabral
Artista plástico


Conheci teu pai em uma das minhas muitas idas a BH sei lá quando, talvez em 88, 89? Fui na tua casa numa ocasião em que lá estavam voce, ele, a Banana e o Marcelo, mas nada muito além de uma conversa fiada rápida.
Quando teu irmão se mudou pra Curitiba, teu pai veio visitá-lo e me convidou pra ir lá casa do Cláudio assistir a seu último filme, feito em vídeo. Foi bem engraçado, o filme bem trash, com uns ET´s feitos de barata de plástico, voce e teu pai fazendo pontas.
Já estou próximo dos 50, mas ainda penso naquelas coisas: ´quando for velhinho vou ser assim-assado´, nossas eternas projeções, onde misturamos nossas muitas influências, umas com mais peso e outras com menos - pai, mãe, amigos, etc, coisas boas que pescamos por aí no decorrer da vida. Como sou das artes e do yoga, aposentar, parar de trabalhar, está completamente fora de minhas projeções, de meus planos, de minhas cogitações. E aí entra o caquinho de colaboração de seu pai pro meu quando-for-velhinho-etc pessoal: serei ainda produtivo, ainda bem-humorado, ainda curioso, ainda criativo, tudo de bom que percebi nele.