Release da mostra O CINEMA DE ARON FELDMAN - realizada em janeiro de 2008, com curadoria de Francisco César Filho:
CCBB - SP EXIBE O CINEMA TRANSGRESSOR
DE ARON FELDMAN
*** destaque para “O Mundo de Anônimo Jr.”, longa que foi rejeitado pelo Instituto Nacional do Cinema e que teve cortes solicitados pela Censura Federal
*** na programação estão trabalhos de Fábio Carvalho e Ida Feldman, “herdeiros” de Aron Feldman
*** evento acontece de 23.01 a 3.02, no CCBB - SP, com entrada franca
Realizador influente, mas de carreira totalmente subterrânea, Aron Feldman (1919-1993) recebe revisão de sua obra nqa mostra O CINEMA DE ARON FELDMAN, programada de 23 de janeiro a 3 de fevereiro no Centro Cultural Banco do Brasil (Rua Álvares Penteado 112, Centro, São Paulo, entrada franca).
Autor do polêmico e influente “O Mundo de Anônimo Jr.” (1972) - longa-metragem que integra o ciclo denominado Cinema Marginal e é considerado pelos estudiosos como um dos mais radicais dessa escola -, Aron Feldman viu negado o seu certificado de exibição pelo Instituto Nacional do Cinema, num provável conluio com a Censura Federal, o que impediu sua exibição nos cinemas. O filme, que satiriza simbolicamente uma época de repressão e obscurantismo, foi projetado exclusivamente em cineclubes e cinematecas, muitas vezes clandestinamente, e encontra-se há anos fora de circulação. Em texto de 1974, incluído no catálogo do evento (e reproduzido ao final), o crítico e historiador de cinema Paulo Emílio Salles Gomes (1916-1977) afirma: “O que impressiona no comportamento dos comissários governamentais é o desconhecimento que revelaram em matéria específica de cinema brasileiro e mais geralmente em torno de cultura nacional e seus diferentes matizes.”
O CINEMA DE ARON FELDMAN traz outros 11 filmes e vídeos dirigidos pelo autor, que destacam sua versatilidade (estão incluídos documentários abordando fatos sociais e culturais do país) e, principalmente, sua filosofia de criação – fazer com os recursos e condições disponíveis, por mais restritos que fossem. Destacam-se “Casqueiro” (1976), sobre crianças vendedoras às margens da Via Anchieta, “Mangue X Metrô” (1976), que acompanha a desocupação da região do Mangue carioca para a construção do metrô, e “O Pacote” (1982), que trata do desemprego na região do ABC paulista.
Duas raridades, produzidas em vídeo vhs no fim da carreira do cineasta, marcam o seu retorno à ficção. Em “A Odisséia de Um Cadáver” (1988) um cadáver feminino é achado no mato por dois caipiras e conduzido à distante delegacia, após mil peripécias. Já “Estranha Criaturas” (1990) uma prostituta jovem é informada por veterana que bichinhos vorazes a estão consumindo e o mesmo poderá ocorrer com a novata quando envelhecer.
“Herdeiros”: Ida Feldman e Fábio Carvalho
O evento traz ainda obras assinadas por dois “herdeiros” de Aron Feldman. Sua filha Ida Feldman apresenta trabalhos que registram certo underground paulistano recente. Entre os destaques estão “Charlote”, uma homenagem à travesti e joalheira Charlote Maluf, que faleceu em 2005, “SM n.1”, um vídeo noir sadomasoquista ao som do duo Tetine ambientado num castelo medieval, e “Pera Uva e Maça”, no qual personalidades como Luiz Pozzoli, Patricia Andrade, Carolina Paes e a própria Ida Feldman se beijam em fotografias animadas pela música “Namorar Pelado”.
Considerado uma espécie de “herdeiro estético de Aron Feldman e responsável pela operação de câmera de “Estranhas Criaturas”, o realizador mineiro Fábio Carvalho dirigiu em 1988 o documentário “O Mundo de Aron Feldman”, que aborda de maneira poética a obra do cineasta e foi vencedor do prêmio de melhor vídeo e do Prêmio Especial do Júri de Melhor Direção no Rio Cine Festival, além de merecer no Festival Videobrasil os prêmios de melhor vídeo, melhor documentário e Prêmio Mário Gusmão de Criatividade. Outros importantes trabalhos de Carvalho que ganham exibição no CCBB - SP são “Gabinete das Figuras Variadas” (sobre um inusitado encontro de um astrônomo, um músico, um artista plástico e uma soprano) e “Guará Ladrão de Estrelas”, um documentário sobre Guaracy Rodrigues, ativo participante do Cinema Marginal brasileiro.
Com curadoria do cineasta Francisco Cesar Filho (responsável pela curadoria do recente ciclo “Clássicos e Raros do Nosso Cinema”), a mostra O CINEMA DE ARON FELDMAN é organizada pela Associação do Audiovisual, entidade responsável pelo Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo, pela Mostra do Audiovisual Paulista e pelo arte.mov – Festival Internacional de Arte em Mídias Móveis.
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